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2004-11-04

A bagagem das viajantes 

Porque nem só de vitórias que são derrotas se fazem os dias, e porque um blog é a nossa casa, o espaço onde escrevemos o que nos apetece, muitas vezes sem o devido respeito por quem eventualmente nos lê e possa, assim, ficar a leste, que na casa da empatia não entram todos, apetece-me falar de música, da nossa, "orgulhosas autoras deste blog", da que nos acompanhou o crescimento, da que nos formou, da que arrumámos na prateleira de não-tornar-a-ouvir-ou-cantar-nem-que-chovam-canivetes, de toda, da que nos surgiu enquanto tomávamos, descansadamente, o nosso café, da que cantámos, primeiro em surdina, para não nos ouvirem lá no bar, depois mais alto, que o entusiasmo às vezes faz das suas.
Entre muito lixo, lá surgiram, de nariz levantado, em tom de desafio, as canções políticas, ou antes, as canções interpretadas num tempo de consciência política desperta.
Do nada, como tantas vezes acontece a quem nasceu em ambientes similares e cresceu num mesmo tempo, surgiu o fantástico poema do Ary:

"Tuas palavras
ora de mel, ora de fel
sabem a vida
entram na pele
doem na pele
Tuas palavras
são ternura, amor e morte
são as palavras de um forte
chamado Brel."

Esta canção, cantada já a plenos pulmões enquanto atravessávamos a rua, de braços estendidos para o infinito, numa interpretação exageradamente dramatizada, surpreendeu-nos por julgarmos que apenas cada uma de nós se lembrava dela.
Ainda bem que não é assim, ainda bem que esta, como alguns magníficos poemas do Joaquim Pessoa interpretados por Carlos Mendes, ainda nos ecoam na memória, ainda bem que, ainda que a ferros, conseguimos arrancar da memória melodias que não chegam tão claras assim, entre vozes vacilantes de quem tenta lembrar-se da lírica e uma afinação que fica a dever qualquer coisinha à perfeição.
Ainda bem que nem tudo esquece, que nem tudo se perde, que nem tudo morre.
Ainda bem que há dias assim.




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