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2004-12-17

Férias 

Temos mesmo de ir para férias de blog.
A minha parceira foi de férias, eu fiquei a fazer o trabalho dela juntamente com o meu. Não me parece que, nesta altura do ano, consiga bagagem para assegurar o trabalho das duas e o blog das duas.
Portanto, para quem eventualmente nos visitar, aqui ficam, desde já, os desejos de bom natal.
Por aqui, apenas pedimos ao pai natal que nos presenteie com um governo decente. Já nem nos importamos com o facto de só chegar lá para Fevereiro.
Bom natal, bom natal, bom natal.




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2004-12-16

Qual loura?! 

O meu trabalho hoje foi diferente do habitual. Foi no meio do cauchu. A minha partner foi de férias e sobrou para mim. Se, pelo menos, não trouxer um bronze decente, dificilmente lhe perdoarei.
O atendimento ao público é algo que faço muito pontualmente. Nas férias da Flor, claro. Gosto de o fazer, gosto de estar com pessoas, por oposição à solidão do meu gabinete desterrado no primeiro andar.
Mas há pessoas e pessoas. Entre telefones, colegas stressados, outros totalmente ausentes, doutores com o Dr. na lapela, velhos conhecidos que trazem sempre na manga uma anedota nova e outros que entram e saem sem que se dê por eles, lá vem um inconveniente. Que nem sequer é um simples inconveniente. É um incoveniente patético. Eu explico. Sou morena, tenho o cabelo escuro. Por brincadeira, uma amiga costuma dizer que somos meio marroquinas, por virmos do Sul, termos cabelos e olhos escuros e tez morena. Um cliente perguntou-me hoje se sempre fui morena. Por pensar que estava a gozar comigo (e se calhar estava mesmo), disse-lhe que não, que sou naturalmente loura mas que me apeteceu pintar o cabelo de escuro. Percebeu que estava a brincar e rematou com um “É que tem uma cor de cabelo e de pele tão bonita”.
Ora posto o facto de a maioria das mulheres portuguesas serem como eu, sou levada a pensar que o homem deve ter uma trabalheira imensa a dar esta cantada a todas as mulheres que encontra na rua.
Nada de mais, mas foi patético. E, só por causa das coisas, já foi para a minha lista negra.
É que ainda por cima, com tanto frio e com uma noite mal dormida, hoje não foi dos meus melhores dias.




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2004-12-15

De visita 

E pronto, parceira de malas prontas e pé já no avião rumo ao calor de Fortaleza e eu que me aguente com o cauchu.
Para que não me esqueça dela deixou-me aqui em casa o Freud, o cão da Mariana. Pobre cachorro que tanto cheira a cadeira onde esteve sentada e a porta por onde saíu a sua dona.
Olha-me como quem não sabe o que está a fazer nesta casa estranha, aceita fugidiamente uma festa e procura de novo a porta.
Quando a sua dona voltar já ele se terá habituado a nós, suponho.
O pior vai ser a minha filha que, imagino, me irá dar cabo da cabeça para ter também um cão dela.
A gente mete-se nestas alhadas e depois tem de sair delas, né?




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2004-12-14

O sismo 

O país tremeu ontem e aqui me confesso: a culpa foi minha.
Eu explico.
Fui a Tribunal ontem como testemunha de um amigo que se meteu em apuros sem saber bem como. Depois de me passear pelas lajes do tétrico Tribunal, lá veio a menina dos óculos grossos chamar-me. Segui-a com os passos que me são característicos e que fazem estremecer os móveis lá de casa e destrambelham os nervos dos vizinhos de baixo, seja em casa seja no escritório.
Deixei o chão de pedra para pisar o chão de madeira, mas nem isso atenuou a força da natureza que é o meu modo de andar. Eu entrei na sala de audiências e o país tremeu.
Qual jangada de pedra! Qual pedrinha lançada ao chão em Tóquio!
Em guarda!, que os meus saltos altos andam na rua!




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Avô Pratas 

É lugar comum dizer que só damos valor às pessoas quando nos faltam. Não é sempre assim. Muitas vezes reconhecemos o valor dessas pessoas e apenas pecamos por não lho dizermos.
É o que se passa com o nosso colega Pratas que, esperamos, tenha forças e alento para nos ler em casa.
O Pratas é o nosso colega mais velho. Já teve direito a alguns posts neste blog por ser uma figura tão característica, pelos seus famosos pontapés na gramática, pelo seu bigode, pelas gaffes, por não perceber o pontapé por debaixo da mesa, por pegar no entrecosto como uma madame que pega graciosamente na sua chávena de chá. Mas o Pratas é muito mais do que isso. É um profissional de mão cheia, do alto dos seus 70 anos. É um homem bem disposto e generoso, disponível e companheiro, amigo incondicional.
Adoptámo-lo, a Flor e eu, como nosso avô depois de fazermos contas e de lhe mostrarmos que sim, que poderia sê-lo.
Estas duas netas se, por um lado, lhe dão vontade de adiar a reforma e de continuar a aceitar abusos que nenhuma outra pessoa, no seu lugar, aceitaria, em termos do trabalho que lhe é pedido, por outro lado, dão-lhe cabo da cabeça. Uma é doce, carinhosa e infalível. A outra tem mau feitio e é fria e directa quando não lhe apetece aturar tretas. Uma aceita-lhe o beijo matinal a outra desatina com um breve toque no ombro. Uma aceita os elogios que faz de boa vontade, a outra passa-se com um olhar mais fixo. Uma fá-lo sorrir, a outra deixa-o ir muitas vezes para casa de cara amarrada.
Mas ambas nutrem por ele uma ternura imensa, uma ternura de netas para avô e mantêm uma relação de carinho, respeito e cumplicidade onde poucos mais entram.
O Pratas está doente. Está em casa. De baixa, pela segunda vez na sua já longa vida. Sentimos-lhe a falta. A casa e a mesa do almoço estão vazias. Nós estamos apreensivas. Queremos que volte depressa.
As melhoras, avô Pratas.




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2004-12-13

O regresso 

Voltar de férias é sempre estranho. A readaptação aos horários exigentes, às corridas matinais para os transportes públicos, à criança quase arrastada pela mão que, felizmente, vai cantarolando e rindo, ao café engolido em vez de saboreado, a secretária que nos aguarda, mais cinzenta do que quando a deixámos (mas isso talvez se deva à balda da senhora que a devia ter limpo e que aproveitou as minhas férias para não o fazer).
Cheguei cedo, enfiei-me no meu gabinete e ainda não vi nenhum dos meus colegas.
Daqui a pouco isto já não é nada. Habituo-me mais depressa ao trabalho do que às férias, e estas foram bem curtas, os derradeiros dias do ano.
A gente volta e, apesar de encontrar o agrafador e o furador mais ou menos no mesmo sítio, sabe que tem o país em reviravolta com uma Assembleia dissolvida, um primeiro-ministro em rota de demissão e um salão de baile que se ajeita para mais uma dança de cadeiras.
Just another monday.




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2004-12-06

Cemitério de afectos 

Este tema só despertou em mim por o ver abordado no Notícias Magazine, porque é mesmo de cemitério que se trata –e eu, mesmo os meus mortos reais, não os visito nessa sua derradeira morada-, ainda que seja um cemitério sem flores nem saudade.
Pela nossa vida vamos procurando e, pontualmente, encontrando aquelas pessoas que julgamos personificar o amor de que se precisa para se respirar fluentemente. Não direi os mais sortudos porque em boa verdade não acredito que o sejam, mas alguns de nós acertam à primeira, ou não se dão ao trabalho de procurar melhor, não sei bem. Outros de nós enganam-se sucessivas vezes.
Nesses enganos, em cada um desses enganos, há uma parte de nós que se entrega, que se molda, que recebe, que acredita, que quer, que aceita. A relação dura enquanto pode e após terminar, de mútuo acordo ou não, fecha-se a gaveta. Ou assim deveria ser. Esse amor, quando o foi verdadeiramente, não pode transformar-se em nada senão numa gaveta fechada. Assim como quando começámos por ser pobres, depois enriquecemos e voltámos a ser pobres. Já não conseguimos aceitar a pobreza como a aceitávamos antes de conhecer algo melhor. Com os amores é a mesma coisa. Não podemos voltar a ser amigos de quem, em determinado momento, foi mais do que isso.
Essas pessoas, a quem nos entregámos, que com amor recebemos, deixam de ter lugar na nossa vida. Não existe uma arrecadação onde, salutarmente, as possamos guardar.
Presume-se que, entre pessoas civilizadas, a relação de amizade se mantenha, até porque os amigos, os interesses, os hábitos continuam a ser os mesmos. Mas isso é, se não outra coisa mais inqualificável, um total desrespeito pelo amor que sentimos.
Nunca me pesou rasgar folhas da minha vida passada, rasgar fotografias e cartas, números de telefone e bilhetes de cinema gatafunhados. Até as memórias, que essas só existem enquanto as fizermos perdurar. É assim que temos espaço para recomeçar. É assim que faz sentido. É assim que pode ser.
Como podemos recomeçar o processo da entrega se parte de nós está ainda na memória dessa outra história? Como podemos ter a vida ordenada se abrimos uma gaveta sem termos fechado outra? Quem se entende em tamanho caos? Cada gaveta aberta tem um mundo lá dentro. Um mundo que não podemos renegar porque faz parte de quem somos. Mas quem somos hoje, ainda que resultante do que fomos ontem, não quem fomos ontem misturado com o que somos hoje.
Os afectos gerem-se com dificuldade, exigem alguma perícia mas, acima de tudo, exigem uma entrega total. Por isso não é na Terra do Nunca que devemos arrumar as chaves das gavetas que fechámos; é na Terra de Ninguém.




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2004-12-03

A queda  

Adeus, Governo mau! Venha outro... não melhor.
Infelizmente é assim. Saltitamos entre o PS e o PSD cujos líderes são sempre os mesmos narcisos. E antes falasse de flores.
Jorge Sampaio decidiu, o Santana ficou mal disposto, o Sócrates, sem nunca ter pedido a demissão do Governo, ganhou-o, assim se crê, de bandeja.
Nós continuamos assustados com as listas; as listas de espera na saúde, que não ficaram mais curtas, as do número de desempregados e de empresas que fecham, muitas sem se preocuparem em saldar as últimas contas com os trabalhadores, as nossas listas lá de casa de compras a fazer no supermercado, as da escola com material escolar para as crianças, já para não falar da lista de presentes de natal. Continuamos a ficar com as carteiras vazias antes do fim do mês enquanto assistimos à dança de cadeiras de quem nos quer (des)governar.
Santana Lopes, que ascendeu à cadeira de primeiro-ministro sem saber como, como na tal história da tartaruga no poste, deixa-a com um historial de péssimas medidas, desastrosas decisões, total desconhecimento de processos, gastas desculpas, nenhuma glória de ter mandado.
Dizemos-lhe adeus sem saudades e já temendo o senhor que se segue.
Para prenda de natal, está mal. Para nosso futuro é assustador. E, neste ponto do caminho, só dorme bem à noite quem anda cansado, muito cansado de se manter à tona de uma água sempre revolta e onde, a cada braçada, tem de se defender de mais um obstáculo.
Temo quando penso na minha filha a crescer para estes dias que só tendem a piorar.




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2004-12-01

Nocturno 

Sabe assim a descanso do guerreiro revestido de lugar comum, mas o prazer é sempre imenso.
Depois de mais um dia de trabalho, casa aceitavelmente limpa e arrumada, Cinderela e outras
histórias revividas com a princesa cá de casa, encostei-me, por fim, à janela, quase descansada, a fumar um cigarro, a beber vinho branco num copo de pé alto e vi a chuva. Os carros passam espaçadamente na avenida e a chuva bate no mármore da varanda, salpicando-me os pés. Gosto. E mereço. Ando cansada. Estou cansada há muito tempo. Alenta-me a esperança de um dia poder usufruir de mim e das pessoas que amo com toda a disponibilidade que merecem.
Agora entra o frio no quarto onde escrevo. E ouço a chuva e os carros. Passeio os olhos pelas paredes em volta e consolo-me com as fotografias nas paredes, com os livros, com os velhos discos de vinil. Ouço a minha filha voltar-se na cama e comovo-me. Vale-me ainda a facilidade com que me comovo, por contraponto à frieza dos dias e das pessoas que, como eu, os habitam.
Não somos felizes no mundo que criámos. Mas temos a felicidade possível e alimentamos o sonho de o sermos sempre um pouco mais. Sem resignações nem ilusões. Com escapes pontuais e realizações fugidias.
Não estou inquieta hoje. Apenas cansada. Tremendamente cansada.




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