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2004-12-01

Nocturno 

Sabe assim a descanso do guerreiro revestido de lugar comum, mas o prazer é sempre imenso.
Depois de mais um dia de trabalho, casa aceitavelmente limpa e arrumada, Cinderela e outras
histórias revividas com a princesa cá de casa, encostei-me, por fim, à janela, quase descansada, a fumar um cigarro, a beber vinho branco num copo de pé alto e vi a chuva. Os carros passam espaçadamente na avenida e a chuva bate no mármore da varanda, salpicando-me os pés. Gosto. E mereço. Ando cansada. Estou cansada há muito tempo. Alenta-me a esperança de um dia poder usufruir de mim e das pessoas que amo com toda a disponibilidade que merecem.
Agora entra o frio no quarto onde escrevo. E ouço a chuva e os carros. Passeio os olhos pelas paredes em volta e consolo-me com as fotografias nas paredes, com os livros, com os velhos discos de vinil. Ouço a minha filha voltar-se na cama e comovo-me. Vale-me ainda a facilidade com que me comovo, por contraponto à frieza dos dias e das pessoas que, como eu, os habitam.
Não somos felizes no mundo que criámos. Mas temos a felicidade possível e alimentamos o sonho de o sermos sempre um pouco mais. Sem resignações nem ilusões. Com escapes pontuais e realizações fugidias.
Não estou inquieta hoje. Apenas cansada. Tremendamente cansada.




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